Crônica - Retratos de Mulher
Di Cavalcanti
por Tais Luso de Carvalho
Se há quem mereça ter um retrato dependurado na parede principal de nossa sala somos nós, mulheres. Apesar de sermos uma miscelânea de sentimentos e atitudes, tidas como choronas, explosivas, sensíveis, brigonas, ciumentas, apaixonadas, solidárias, rancorosas, abnegadas, inteligentes... de tudo um pouco, mesmo assim esse lugar deveria ser nosso. Sei que somos uma mistura incrível, vá nos entender, mas mesmo assim seria merecido, e com louvores.
Estamos felizes no amor? Então não precisamos de muito, já temos o mundo: nosso emocional está equilibrado, não perdemos o prumo. Se nossa vida afetiva vai bem, com boa vontade arrumaremos o que falta. Somos quase todas assim.
Mas chega um momento que temos de mostrar o que é ser mulher. Além de nosso trabalho, seja de profissional liberal ou funcionária pública ou privada, há outras tarefas que ficam a nosso encargo: marcar as consultas médicas, cuidar dos presentes das secretárias, dar atenção aos problemas infindáveis da empregada, administrar a casa, cuidar do cachorro, do gato, um papinho com as vizinhas, um papo mais ‘cabeça’ com a professora dos nossos filhos - na tentativa de provar que o guri não é maluco -, várias lembrancinhas no Natal, para levar nosso reconhecimento pelo ‘acertado’ corte de cabelo, pelas unhas feitas, pelo bom atendimento dos médicos e secretárias. E os problemas dos filhos? E das namoradas dos filhos? E os problemas do condomínio - do síndico que não aparece, dos funcionários que só pedem aumento, enfim, do edifício que está prestes a implodir? Hum... São tantas as emoções!
E mais: recebemos e lemos as 100 dicas (urgentes) para seduzir o namorado, marido...que chegam por newsletter na nossa caixa de e-mails; somos metralhadas para freqüentar uma academia de musculação; e vamos nessa! E mais: temos de aprender a sorrir para seduzir! Nada de gargalhar! Não gargalhe! Esta é a mais nova dica de sedução que li num portal: sorria timidamente! Levamos 500 anos para soltar 1/2 franga, mas agora puxe a corda, fique tímida. Deu pra nós!
Mas, apesar de tudo ficamos agradecidas pelos elogios sinceros, aos que, finalmente, conseguiram desvendar nossa alma... Agradecidas ficamos aos que descobriram um pouco de nossas qualidades, que entenderam que não vivemos da beleza ou para ela, que isso não é o essencial, embora exista um padrão de beleza estipulado pelos centros da moda – ser ‘belamente’ alta e ossuda.
E, após essa maratona sem fim, ainda somos contestadas: uns dizem que nossa obsessão por compras e mudanças no visual é uma insatisfação própria das mulheres; outros dizem ser mais uma de nossas futilidades. Tudo intriga da oposição; mal sabem eles que temos de matar aquele desgraçado ‘leão’ a cada dia para provarmos que não somos frágeis.
Se vamos para o shopping é com a filharada pedindo de tudo. Mal sabem ‘eles’ que nossas manias saem ‘baratinho’, o suficiente para acertarmos os ‘ponteiros’ do nosso equilíbrio. Ruim é ficarmos com algo entalado para a satisfação alheia. Ou tirar 10 em comportamento, cozinhando como loucas e nos doando como doidas, tentando resolver todos os problemas da família.
Por tudo que vejo, pretendo continuar comprando meus livros e CDs; freqüentando os sebos, comprando minhas bolsas, sapatos e brincos. Coisas não muito caras; mas, também, não gosto do ‘baratão’. Ops! Agora menti: lembrei que adoro aquelas lojas de ‘1.99’! Adoro aquela cacarecada barata e amontoada pelos cantos... Acho que minha válvula de escape são as cacarecadas e os balaios da ‘Feira do Livro’ - que já vai começar. Coisa meio estranha... Mas deixem assim, não queiram nos entender.
Tais Luso de Carvalho
é gaúcha de Porto Alegre - RS
artista plástica e crônista
é colunista da Revista Dartis
e colabora nessa coluna
"Essa Crônica Vida"
(a crônica nossa de cada dia)
para o ArtWork Brasil - Notícias
Contato: taisluso@hotmail.com
Porto das Crônicas
http://taisluso.blogspot.com
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