Antero de Quental - Soneto
Mãe...
Mãe – que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mãos piedosas ate o fio
Do meu pobre existir, meio partido...
Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido...
Eu dava o meu orgulho de homem – dava
Minha estéril ciência, sem receio,
E em débil criancinha me tornava,
Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
se tu fosses, querida, a minha mãe!
Antero Tarquínio de Quental
Foi escritor, político e poeta português.
(Ponta Delgada, 18 de Abril de 1842 - 11 de Setembro de 1891)Mãe – que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mãos piedosas ate o fio
Do meu pobre existir, meio partido...
Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido...
Eu dava o meu orgulho de homem – dava
Minha estéril ciência, sem receio,
E em débil criancinha me tornava,
Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
se tu fosses, querida, a minha mãe!
Antero Tarquínio de Quental
Foi escritor, político e poeta português.
Em julho de 1855 foi estudar para Coimbra - matriculou-se na Faculdade de Direito em 1858 e concluiu o curso em julho de 1864. Em 1865 envolveu-se na polémica conhecida por Questão Coimbrã, em que humilhou António Feliciano de Castilho, seu antigo professor e renomado crítico literário que se tinha por cânone para os escritores nacionais - ao livro "Odes Modernas" de Antero, Castilho respondeu com críticas duras sobre o aventureirismo de um jovem tolo que escrevia de forma assaz estranha e de gosto muito duvidoso.
Antero respondeu com o opúsculo "Bom Senso e Bom Gosto", em que definia a sua literatura por oposição à instituída: ao Ultra-Romantismo decadente, torpe, beato, estupidificante e moralmente degradado, Antero opunha o Realismo, a exposição da vida tal como ela era, das chagas da sociedade, da pobreza, da exploração.
Antero defendia a poesia como "Voz da Revolução", como forma de alertar as consciências para as desigualdades sociais e para os problemas da humanidade.
Em 1866 foi viver em Lisboa, onde trabalhou como tipógrafo, profissão que também exerceu em Paris no ano de 1867.Em 1868 regressou a Lisboa, onde formou o Cenáculo, de que fizeram parte, entre outros, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão.
Em 1874 adoeceu de psicose maníaco-depressiva, que desde então o afligiu, acabando por suicidar-se.
Fonte:texto-ruadapoesia
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