A IMAGINAÇÃO EM BACHELARD

por Sérgio Peixoto Mendes
A tela de um pintor de rosas, como Elstir, é um terreno fértil, engenhosamente adubado, arado pela imaginação. Elstir ao pintar rosas, cria sementes, gera espécimes novas na família das rosas. Da mesma forma, um poeta ao escrever, cria linguagem, gera novos “sentidos” à palavra pela palavra, constitui novas imagens através dos vocábulos. O poeta expressa o mundo numa folha em branco e expressa de modo lingüístico. Da mesma maneira que Elstir semeia rosas em suas telas, o poeta “pinta” com palavras a instantaneidade da imagem. O que ambos tem em comum é a imagem nova, que rompe com o estabelecido, uma imagem que não é cópia do real. A imagem poética em sua novidade desembaraça-se da responsabilidade com o passado, é espontânea, não se prende às significações anteriores. O poeta é o ser criador que vive intensamente em sua alma a imagem sem significado. Uma imagem primeira, recém-nascida, fruto da imaginação criadora. Para Bachelard não é a memória que produz imagens, antes ao contrário, é a imaginação que matiza a memória, que dá novas nuanças às lembranças. Diferente do que pensava Bergson, a função da imaginação para Bachelard, não é a de produzir fantasias nem tão pouco, “divertimentos”. A imaginação na filosofia bachelardiana tem função de destaque, tem funções totalmente diferentes daquelas que lhe prescreve os manuais. A função da imaginação não é reproduzir, esta função reprodutora é “filha” da memória, tem origens na percepção, portanto, tem um valor aquém daquele que lhe atribui Bachelard, para quem a imaginação é criadora de mundo, fonte inesgotável que nutre devaneios, que gera novos conceitos, modificando a linguagem.
A IMAGINAÇÃO EM BACHELARD
A imaginação, segundo Bachelard, rompe com o racionalismo tradicional, uma vez que este está atrelado ao passado. A imaginação, mais precisamente a imaginação poética, prescindi de todo conhecimento prévio e não pode abrir mão do presente. Ela exige um “estado de alerta” , por isso renega os métodos e renegando-os pode apontar para o futuro. A imaginação não tem causa é a-causal, não é um efeito e, se não é um efeito é ela mesma causa, causa da imagem. A imaginação poética cria seu próprio mundo e o poeta vive conforme sua própria criação. Neste mundo criado “as condições reais não são mais determinantes” 1 uma vez que são completamente seduzidas pela função do irreal, que desperta, que rompe com o automatismo, desconsiderando o
passado e sua imobilidade. A função do irreal, para Bachelard, é igualmente positiva. Uma imagem comparada é uma imagem diminuída, Bachelard rejeita a metáfora comum, rejeita a substituição por semelhança, nesse sentido, somente a primeira metáfora tem valor. As demais comparam e comparando “diminuem os valores de expressão dos termos comparados”2, nesse sentido, a imagem poética dá existência às coisas, ou seja, não se limita a dizer a coisa existente.
Na filosofia bachelardiana o universo não é negado é antes, transformado, matizado pela imaginação, portanto, existe um mundo lá fora, o mundo das estabilidades, mas um mundo que não pode determinar o sujeito imaginante (ao contrário do que pensa a psicologia) e sim é determinado pelo ser da imagem, pela imaginação do ser. Um mundo onde o ser imaginante não pode adaptar-se, só pode ser um mundo que não lhe pertence. Mas, num mundo onde
predomina a “imprudência” do irreal o homem pode tornar-se tudo. Neste mundo gerado pelo Devaneio, Deus existe, papai noel também, nele o homem feliz se reconhece na sua “concha”. A poesia é o “espaço de vitrine” da imaginação poética. Nesse espaço, a imaginação se mostra iluminada, mostra seu ser nas mais variadas tonalidades. Na consciência do fenomenólogo a imaginação fala de si própria. Em Bachelard a fenomenologia encontra sua completude na linguagem viva da poesia. Na Poética do Espaço, Bachelard fala dos espaços da intimidade, espaços do interior, fala de cofres, gavetas, porões e sótão, mas, além desses espaços
1 Bachelard - Poética do Espaço p. 195 - Os Pensadores
2 Idem - Poética do Devaneio p. 7 - Martins Fontes
de intimidade, agindo fenomenologicamente, Bachelard fala do espaço da “varanda” Um espaço dedicado a imprudência visível, ao não-racional, onde é possível expor uma metafisica da imaginação desprezando o prudente método científico. De que outra forma a imaginação pode imaginar a si mesma, senão sendo avessa aos métodos? No espaço da “varanda” o fenômeno se mostra tal qual é, com suas nuances originais, na multiplicidade das ressonâncias do leitor
apaixonado. Bachelard é um leitor apaixonado que multiplica seu ser na repercussão do poema, se deixa “levar” por ele nas “asas” de sua própria imaginação. A função do irreal, “trabalhada” engenhosamente com exuberância e profundidade num poema, provoca no leitor apaixonado uma ressonância-repercussão que o arrebata para as profundezas da alma . Com que clareza,
Pierre-Jean Jouve escreve: “A poesia é uma alma inaugurando uma forma” 3 Que conclusão poderíamos chegar senão que: sem imaginação não há criação? Criar, criar e criar esta é a função da imaginação em Bachelard.
A IMAGINAÇÃO EM BACHELARD
A imaginação, segundo Bachelard, rompe com o racionalismo tradicional, uma vez que este está atrelado ao passado. A imaginação, mais precisamente a imaginação poética, prescindi de todo conhecimento prévio e não pode abrir mão do presente. Ela exige um “estado de alerta” , por isso renega os métodos e renegando-os pode apontar para o futuro. A imaginação não tem causa é a-causal, não é um efeito e, se não é um efeito é ela mesma causa, causa da imagem. A imaginação poética cria seu próprio mundo e o poeta vive conforme sua própria criação. Neste mundo criado “as condições reais não são mais determinantes” 1 uma vez que são completamente seduzidas pela função do irreal, que desperta, que rompe com o automatismo, desconsiderando o
passado e sua imobilidade. A função do irreal, para Bachelard, é igualmente positiva. Uma imagem comparada é uma imagem diminuída, Bachelard rejeita a metáfora comum, rejeita a substituição por semelhança, nesse sentido, somente a primeira metáfora tem valor. As demais comparam e comparando “diminuem os valores de expressão dos termos comparados”2, nesse sentido, a imagem poética dá existência às coisas, ou seja, não se limita a dizer a coisa existente.
Na filosofia bachelardiana o universo não é negado é antes, transformado, matizado pela imaginação, portanto, existe um mundo lá fora, o mundo das estabilidades, mas um mundo que não pode determinar o sujeito imaginante (ao contrário do que pensa a psicologia) e sim é determinado pelo ser da imagem, pela imaginação do ser. Um mundo onde o ser imaginante não pode adaptar-se, só pode ser um mundo que não lhe pertence. Mas, num mundo onde
predomina a “imprudência” do irreal o homem pode tornar-se tudo. Neste mundo gerado pelo Devaneio, Deus existe, papai noel também, nele o homem feliz se reconhece na sua “concha”. A poesia é o “espaço de vitrine” da imaginação poética. Nesse espaço, a imaginação se mostra iluminada, mostra seu ser nas mais variadas tonalidades. Na consciência do fenomenólogo a imaginação fala de si própria. Em Bachelard a fenomenologia encontra sua completude na linguagem viva da poesia. Na Poética do Espaço, Bachelard fala dos espaços da intimidade, espaços do interior, fala de cofres, gavetas, porões e sótão, mas, além desses espaços
1 Bachelard - Poética do Espaço p. 195 - Os Pensadores
2 Idem - Poética do Devaneio p. 7 - Martins Fontes
de intimidade, agindo fenomenologicamente, Bachelard fala do espaço da “varanda” Um espaço dedicado a imprudência visível, ao não-racional, onde é possível expor uma metafisica da imaginação desprezando o prudente método científico. De que outra forma a imaginação pode imaginar a si mesma, senão sendo avessa aos métodos? No espaço da “varanda” o fenômeno se mostra tal qual é, com suas nuances originais, na multiplicidade das ressonâncias do leitor
apaixonado. Bachelard é um leitor apaixonado que multiplica seu ser na repercussão do poema, se deixa “levar” por ele nas “asas” de sua própria imaginação. A função do irreal, “trabalhada” engenhosamente com exuberância e profundidade num poema, provoca no leitor apaixonado uma ressonância-repercussão que o arrebata para as profundezas da alma . Com que clareza,
Pierre-Jean Jouve escreve: “A poesia é uma alma inaugurando uma forma” 3 Que conclusão poderíamos chegar senão que: sem imaginação não há criação? Criar, criar e criar esta é a função da imaginação em Bachelard.
Sérgio Peixoto Mendes é Filósofo - Porto Alegre – RS
Contato: philoterapia@uol.com.br
Fonte:www.philoterapia.com.br
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