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Local: São Paulo, SP, Brazil

artista plastica/escultora.poeta.facilitadora em vivências.arte& terapias integrativas.

4 de março de 2008

Rota da Seda - Como

Como comemora seu império no reino da seda
Por Rita Andrade*

Uma exposição extensa, de longa duração, custosa e desconcertantemente bela. É assim que Como está comemorando no novo milênio sua inconteste supremacia na indústria de seda para o luxuoso mundo da alta moda. Seta - il Novecento a Como, revive a fantástica produção de tecidos de seda na cidade de Como durante o século XX. O luxo começa na escolha do local da exposição, a Villa Olmo, uma quinta de estilo neoclássico que tem a face voltada para o grande lago.
A concepção do projeto, desde o tema até a pesquisa e a museografia, é da Fundação Antonio Ratti em colaboração com a prefeitura da cidade. Segundo os organizadores, é a primeira vez, desde o nascimento da indústria de seda em Como, que se pode ver material de arquivo das indústrias têxteis exposto. Realmente, a mostra é inédita uma vez que torna público - a consumidores, pesquisadores e fabricantes - aquilo que é historicamente considerado o coração do mercado de luxo na moda: o processo de criação e fabricação de tecidos exclusivos de Dior a Versace.
A quantidade e a variedade de materiais reunidos na exposição é surpreendente mesmo comparado às mega exposições do Palais Galliera em Paris. A importância dessa mostra está justamente no fato de ela apresentar fases do processo criativo através do objeto e não do texto. O que está sendo exposto não se resume em tecidos, mas também roupas e acessórios de grandes couturiers, quadros, fotografias, croquis e desenhos técnicos, que são muitas vezes relacionados entre si. Assim, por exemplo, é possível ver o design têxtil em papel e o respectivo tecido (figuras 4 e 5) ou até mesmo perceber a referência feita a um estilo passado (figuras 2 e 3). O resultado é uma vasta e diversificada documentação onde a roupa e o tecido são percebidos como um modo de entender mudanças culturais e movimentos artísticos que fizeram o século XX.
São 6 os temas que compõem Seta- il Novecento a Como:
- das origens à Belle Époque (1860-1915)- os anos loucos da seda (1918-1929)- a criatividade da crise (1930-1945)- a opulência discreta (1947-1957)- os anos do milagre econômico (1958-1965)- do luxo ao minimalismo, e o retorno (1970-2000)
COMO - A CIDADE DA SEDA
Nenhum outro lugar seria mais propício para esta exposição do que a cidade considerada a maior produtora de luxuosos tecidos de seda. Em Como já existia uma escola de arte têxtil em 1773, o que indica uma produção diferenciada anterior ao século XVIII. Cem anos depois, entre 1866 e 1871 é fundada a “Escola de Sericultura” por iniciativa da Câmara de Comércio, formalizando o know-how da cidade na produção e no design do tecido de seda, a fibra mais apreciada pelas maisons de alta costura de então, como a Maison Worth. Desde então o ‘Instituto Técnico Industrial Paolo Carcano’, como a escola é conhecida hoje, participa ativamente do desenvolvimento tecnológico e nas mudanças de design para um mercado cada vez mais exclusivo.
No século XVIII, enquanto Como aprendia a arte de trabalhar a seda, Lyon na França dominava o desenvolvimento têxtil, aprimorando técnicas e lançando novos designs para seda, como a trama inserida no desenho já projetado no tear que confere um efeito óptico ao tecido. Depois, veio um outro concorrente, agora no norte da Inglaterra, em Spitalfields, que propôs novas padronagens mais simples e mais sóbrias, numa competição direta à indústria de seda francesa. Nesse contexto histórico, a Como de hoje tem um lugar bastante incomum pois que ainda luta para manter a herança do design têxtil bastante complexo aprendido dos franceses no século XVIII, amadurecido no século XIX e globalizado no século XX.
As razões que levaram Como, e não Lyon ou Spitalfields, a carregar a herança da seda pelo século XX afora vieram num dos momentos mais críticos do século: o entre-guerras e o imediato pós Segunda Guerra Mundial. A década de 1920 viu nascer em Como um número significativo de novas tecelagens que produziam artigos de alta qualidade. O período foi bastante propício para isto, apesar de todas as dificuldades de abastecimento causadas pela Primeira Grande Guerra. O impulso da indústria de seda de Como foi motivado pela decadência das tecelagens austríacas e alemãs, que devido às retaliações da guerra, não forneciam na mesma intensidade. Além disso, a indústria francesa estava seriamente abalada e passava por grandes dificuldades, o que fez com que mais tarde Lyon produzisse também a chamada ’seda sintética’ ou o rayon.
BibliografiaRonzoni, Isidoro. Como - Città Della Seta. Como, 2001.Fondazione Antonio Ratti. Seta- il Novecento a Como (Catálogo da Exposição Seta - il Novecento a Como. De maio a setembro de 2001, Villa Olmo, Como). Milano: Silvana Editoriale, 2001.
Museo Didattico della Seta - Como. Como - Città di Mestiere. La Seta e i Suoi Ofici dal 1860 al 1950. (Catálogo da Exposição Como - Città di Mestiere. La Seta e i Suoi Ofici dal 1860 al 1950. De 28 de novembro 2000 a 14 de janeiro de 2001, Como. Como, 2000.
White, Nicola. Reconstructing Italian Fashion. Oxford and New York: Berg, 2000.
Miller, Lesley. Fabricantes de tecidos em Lyon do século XVIII. (a ser lançado em breve em inglês).

Rita Andrade é formada em Moda pela Universidade Anhembi Morumbi e concluiu mestrado em História dos Tecidos e da Roupa pela Universidade de Southampton, na Inglaterra. Fez estágio em museus com importantes acervos têxteis como o Museu Paulista em São Paulo e o Victoria & Albert Museum, em Londres. Hoje, é parte do corpo docente das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU - em São Paulo e da Universidade Anhembi Morumbi.

Fonte:modabrasil