Poesia - Vaso Quebrado
(imagem:ceramista/escultora Laís Granato)
autora Vera Martins Itajaí
Como um vaso...
quebrei-me inteira...resbalei...
refaço-me, resgatando os pedaços
reconstruo-me com percalços
descalça, agora desço da escada
degrau por degrau até chegar ao chão
agora piso nessa terra seca...meu chão, meu pão
deserto, das colinas verdejantes de outrora
criar forças para resgatar o que perdi de mim
da juventude sorridente e da alegria que nunca vivi.
Como um vaso quebrado, dos cacos me refaço
deixo de lado meus dogmas, minhas cortesias
exorto-me e exorcizo-me das paixões de outrora
me refaço, quando vejo engano nos olhares...
piso em terra firme, solitariamente refaço meus caminhos
retomo a vida, partida ao meio-fio do destino
não tenho mais certeza de nada...
agora deixo a vida me levar...para onde quero ir
me sinto como um vaso quebrado na mão do oleiro
que molda com subjetiva interferencia
do barro fomos feitos...perfeitos, a imagem do deus absinto
do barro recomeço, crendo profundamente na vida, que a vida tem
somente tenho a fé, meu acreditar, que é possível transgredir
fazendo somente aquilo do qual tenho muito prazer, e...permitir
aproprio-me da arte, da vida sem clausura, da pintura...
refaço minhas cores, meus odores, doces sonhos e matizes
dantescamente, vivo num mundo de esperas, abrem-se alas
diásporas, reequilibro o vaso sobre a mesa...faço um verso
na sala de jantar sozinha, refaço meu jantar a luz de velas
flor de lotus, no vaso eu pintei, chorei e sorri para mim...
o vaso que reconstruí, com inter-ferencias, permitir...
ironicamente, com meu vaso quebrado escapei...
(do livro Senhora Secreta - poesia,contos & encantos-encontros desconexus)
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