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Local: São Paulo, SP, Brazil

artista plastica/escultora.poeta.facilitadora em vivências.arte& terapias integrativas.

21 de maio de 2009

Diferentes futuros nos separam



Por Nelson Lima

O mundo deste início do século XXI é, mais do que nunca, plural.

Um número considerável de seres humanos habita ainda regiões cultural e socialmente distantes e diferentes das sociedades ditas industrializadas. Na própria sociedade ocidental biliões de cidadãos, ainda que mergulhados em hábitos e comportamentos de consumo de massa, com acesso aos mais diversos produtos e serviços (incluindo material de guerra sofisticado), situam-se em níveis de evolução diferentes tendo do mundo e do futuro (seus e da sociedade) visões e expectativas muito diversas.

Esta miscelânia de "mundos" e de "visões e expectativas" distintas confere ao nosso planeta múltiplas dimensões e desenhos da realidade humana. O tema foi pela primeira vez abordado pelo professor de psicologia americano Clare W. Graves, nos anos 60, tendo sido posteriormente desenvolvido por Don Edward Beck e Christopher C. Cowan. Actualmente, nomes como Ken Wilber, uma das mentes mais brilhantes do nosso tempo, adoptaram o seu modelo de compreensão do mundo. Dois livros se destacam pelos seus contributos decisivos no seu esclarecimento e promoção: Spiral Dynamics, de Beck e Cowan (1996) e A Theory of Everything, de Ken Wilber (2002), publicados em Portugal respectivamente pelo Instituto Piaget e pela Editora Estrela Polar.

Baseados no trabalho pioneiro de Clare Graves, Beck e Cowan propuseram um modelo de desenvolvimento humano que, devido à sua configu-ração, recebeu o nome de Dinâmica da Espiral. Este modelo tem sido validado e não refutado por diferentes pesquisas. Segundo este modelo, o ser humano nasce no estádio 1 e pode evoluir até ao estádio 9 dependendo essa evolução de múltiplos factores psicológicos, culturais e sociais. Escreveu Graves: "é um processo espiralado, emergente, oscilante, marcado por uma progressiva subordinação de sistemas de comportamento mais antigos e de ordem inferior a sistemas mais recentes, de ordem superior, que ocorre à medida que os problemas existenciais de um indivíduo se alteram".

A existência humana, segundo Graves, contem numerosos, provavelmente infinitos, modos de ser, enraizados precisamente nos imensos potenciais do cérebro hierarquicamente estruturado da humanidade. Mas a dinâmica humana faz com que diferentes indivíduos estejam a viver em diferentes níveis de percepção, visões do mundo e estilos de vida. Num mesmo país, numa mesma rua, encontramos indivíduos cujo estádio de desenvolvimento se distingue dos seus vizinhos, se bem que a tendência seja para se agruparem em função da partilha dos mesmos sistemas de crenças, valores e níveis de existência.

Assim, cada um dos sucessivos estádios, ondas ou níveis de existência é uma condição pela qual as pessoas passam no seu percurso rumo a estádios de existência distintos, com psicologias próprias e ajustadas a cada nível: sentimentos, motivações, ética e valores, bioquímica, grau de activação neurológica, sistema de aprendizagem, sistemas de crenças, conceito de saúde mental, conceitos e preferências relativamente a negócios, educação, economia e teoria e prática políticas (Graves,1984).

Beck e Cowan desenvolveram então o conceito de vMEME tendo como ponto de partida o termo "meme" proposto por Mihaly Csikszentmihaly em 1993. Um vMEME é um meta-meme, isto é, um princípio organizador da existência humana que actua nas nossas mentes através de crenças, estilos de vida, tendências de linguagem, normas culturais, formas de arte, expressões religiosas, modelos económicos, etc. Os vMEME codificam instruções para as nossas perspectivas do mundo, as suposições de como tudo funciona e a fundamentação lógica para as decisões que tomamos. Os vMEME representam as influências ambientais (culturais, sociais, educacionais, etc) que moldam não apenas as nossas mentes como as próprias células do cérebro. Eles circulam profundamente nos sistemas humanos e pulsam no centro das escolhas e da inteligência de cada indivíduo. São um produto da interacção do equipamento nos nossos sistemas nervosos com o ambiente e as condições de existência (onde se destacam o tempo, o lugar, os desafios e as circunstâncias) que enfrentamos.

Os vMEMES actuam a três níveis distintos: indivíduos (modelando as suas vidas e os seus valores, da sobrevivência mais básica no aldeão global até ao mais inacessível pensador); as organizações (determinando o seu sucesso ou o seu fracasso no mercado competitivo); e as sociedades (locais ou nacionais) que seguem modelos de existência dependentes de vMEMES com diferentes sentidos (democrático, conservador, etc).

O modelo da Dinâmica da Espiral foi já testado em mais de 50 mil pessoas de todo o mundo e mantem-se válido. Ele apresenta-se, graficamente, com este aspecto:

Wilber divide a espiral em dois grandes estádios: o primeiro contempla os níveis mais inferiores de desenvolvimento psicológico e onde se situa a maioria da população mundial (das nações, dos governos, das empresas); o segundo abrange os níveis mais evoluídos e contempla um número mais restricto mas psicologicamente e culturalmente poderoso.

São nove os níveis de evolução humana propostos por Ken Wilber com base no modelo inicial de Graves e conforme a predominância dos vários vMEMES:

  • Nível 1 (prevalece o instinto de sobrevivência, a prioridade é dada aos alimentos, ao calor, ao sexo e à segurança). Encontra-se ainda, segundo Wilber, em 0,1% da população adulta mas também se observa em todos os bebés recém-nascidos, nos sem-abrigo, nas massas de população faminta do Sudão e de outras regiões inóspitas.
  • Nível 2 (predomina o pensamento animista). Estão neste estádio cerca de 10% da população e pode ser encontrado nos gangs, nas "tribos" corporativas, nas populações devotadas a rituais mágicos, pactos de sangue, crenças e superstições étnicas de cariz mágico.
  • Nível 3 (mentalidade feudal). Encontram-se neste nível cerca de 20% da população adulta mundial e 5% do poder está nas suas mãos. Pertencem a este nível reinos feudais da Ásia muçulmana, líderes de gangs, juventude rebelde, crianças entre os 2 e os 3 anos de idade e mentalidades de fronteira (lutam sobretudo pela posse de territórios).
  • Nível 4 (mentalidade conservadora e corporativa). 40% da população adulta mundial vive neste nível de existência e detem 30% do poder. São exemplos a América puritana, a antiga China confucionista, o judaísmo hassídico, o fundamentalismo religioso cristão e islâmico, grupos como o Exército da Salvação, os escuteiros e ideias como o patriotismo, organizações corporativas, ordens (Malta, Maçonaria, etc).
  • Nível 5 (mentalidade racional-materialista). Encontra-se em 30% da população que detem 50% do poder actual. Indivíduos e sociedades altamente orientadas para os resultados: Wall Street, classes médias emergentes no mundo ocientalizado, colonialismo, indústria da moda, etc.
  • Nível 6 (ecológico e comunitário). Neste nível vivem cerca de 10% da população que detem 15% do poder. Sensíveis ao equilíbrio ecológico, contra as hierarquias estabelecidas, as pessoas que estão neste estádio são fortemente pluralistas, defendem o multiculturalismo e a igualdade. Encontram-se nos movimentos ecologistas, no idealismo holandês, nas organizações não-governamentais como os Médicos Sem Fronteiras, nos partidos "os verdes" da Europa, etc.
  • Nível 7 (integrador). Um por cento da população, com cinco por cento de poder situam-se neste nível. Defendem um mundo sem fronteiras, igualitário, transcendente, solidário. A flexibilidade, a espontaneidade e a funcionalidade têm prioridade máxima. Exemplos: a Teoria do Caos, a "nova física" de Fred Allan Wolf, ensinamentos de Deepak Chopra.
  • Nível 8 (holístico, visão global). Apenas 0,1% da população está neste estádio e detem 1% do poder. Crença principal: o mundo é um único organismo dinâmico, com a sua própria mente colectiva. Exemplos: o conceito de "aldeia global" de McLuhan, as ideias de Gandhi de harmonia pluralista, os ensinamentos do filósofo Ken Wilber, a "hipótese Gaia" de James Lavelock e a "noosfera" de Pierre Teilhard de Chardin. O mais brilhante filósofo da actualidade - Ken Wilber - cujos ensinamentos são um exemplo do nível 8 defende um próximo estádio, o 9º:
  • Nível 9: (integral e holónico). Estará lentamente a emergir em alguns (poucos) núcleos. Wilber, em A Theory of Everything defende uma nova humanidade que altere radicalmente velhos paradigmas e conflitos despertando nos indivíduos o aproveitamento integral das potencialidades humanas. O núcleo central deste "movimento para cima" situa-se no Instituto Integral (Estados Unidos) e tem atraido personalidades e investigadores de distintas disciplinas tais como David Chalmers, Howard Gardner (teorizador das Inteligências Múltiplas), John Searle (conhecido estudioso do fenómeno da consciência), o físico Ervin Lasszlo, o biólogo Francisco Varela (entretanto falecido), Larry Dossey, etc.

Estou plenamente convicto que são estas diferenças sócio-culturais e sobretudo psicológicas que explicam porque enquanto que, neste mesmo instante, existem mentes humanas preocupadas na conquista do futuro e prescrutando os céus em busca de novas fronteiras no Espaço, outras, muitas mais, ainda lutam e morrem, como há 10 mil ou 50 mil anos pela conquista de algumas faixas de territórios inóspitos e inviáveis onde nada mais cresce do que ódio e desumanidade.


Nelson Lima - Consultor. CEO do Instituto da Inteligência (Portugal) e Managing Director de Future Intelligence Management (Inglaterra). Representante da revista NEUROCIENCIA & NEGÓCIOS e de Zigma Consulting Group (América Latina) na União Europeia. Colunista de IDADE MAIOR (Portugal), REDDO Saúde e O GERENTE (Brasil).


Fonte:nelsonlima.blog.com